segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Coordenador da AMEI fala sobre a falta de apoio à prática de esportes inclusivos


A entrevista fala com o coordenador técnico da AMEI (Associação Mariliense de Esportes Inclusivos), Celso Parolisi, 50. O professor de educação física está na instituição desde sua fundação, há nove anos, e como coordenador atua há seis anos. Natural de São Carlos, ele é casado com Claudia Mara Piloto da Silva, com quem tem dois filhos.
No decorrer da entrevista Parolisi fala das dificuldades enfrentadas no esporte inclusivo como falta de incentivo e estrutura. Na semana em que teve início as Paralimpíadas em Londres, o coordenador revela nomes de atletas com potencial para participar da competição em 2016 no Rio de Janeiro.
Parolisi também destaca o trabalho desenvolvido pela entidade e as mudanças necessárias na política esportiva do país.


Qual o trabalho exercido pela AMEI?
O objetivo é trabalhar com esporte para desenvolver a saúde, sociabilidade e em um terceiro plano observar as chances do aluno ser um talento e se tornar atleta de ponta. Nós oferecemos aos alunos natação e atletismo. A natação é nosso carro chefe com aulas na piscina da própria entidade e as aulas de atletismo ocorrem no poliesportivo Pedro Sola.

Quais as principais dificuldades enfrentadas?
Dificuldade maior tanto para o esporte convencional como para o inclusivo é a falta de incentivo, tanto de materiais como financeiro. Isto falta tanto para nossa instituição como a nível nacional. No país ainda vemos que o esporte engatinha. E o reflexo pode ser visto nas últimas olimpíadas com poucos resultados positivos, o que está ligado a falta de políticas voltadas para o esporte. Atualmente, temos o Bolsa Atleta, mas seria necessário mais subsídio para mudar a trajetória do esporte.
Acredito que a fórmula está no investimento, no trabalho de base nas escolas e clubes. Desta forma os talentos seriam observados e trabalhados de forma diferente. Também seria necessário apostar mais na estrutura com implantação de piscinas nas escolas e praças esportivas com professores disponíveis nos bairros. Isto já existe em países como os Estados Unidos e outros, por isso é difícil ganhar deles em grandes competições.


Quais os serviços oferecidos pela entidade? E quantos alunos são atendidos?
Nós atendemos das 8h às 11h30 e das 13h às 17h. Na natação podem participar pessoas de 1 a 80 anos com qualquer tipo de deficiência, como física, visual, auditiva e intelectual. Além disso, temos o projeto Golfinhos do Futuro para dar chance aos jovens de 8 a 12 anos aprenderem um esporte, o que está respaldado no estatuto da entidade.
O atletismo é voltado estritamente para pessoas com deficiência. Oferecemos o esporte gratuito a 250 inscritos. Com a grande maioria dos matriculados é realizado o trabalho social, são poucos os atletas de alto rendimento.

Falta incentivo para o esporte inclusivo? Quais ações seriam necessárias?
Hoje, vivemos uma situação mais confortável, mas com certeza ainda falta muita coisa. O governo municipal é a principal fonte de recursos para pagamento de toda parte de manutenção, como água, energia, telefone, cloro e desenvolvimento do projeto Golfinhos do Futuro. Além disso, o principal apoio é da Secretaria de Esportes com o pagamento das viagens que fazemos para participação em competições em São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, entre outros.
Atualmente, 21 atletas da instituição recebem o Bolsa Atleta, sendo 23 nacionais (valor R$ 925), três internacionais (R$1.800) e uma paralímpica (R$3.200). Para receber o Bolsa Atleta nacional, por exemplo, é necessário estar entre os cinco melhores do país na modalidade.
Deve ser lançado já com pensamento nas Paralimpíadas de 2016, o Bolsa Técnico, em que os 20 melhores do mundo em determinada modalidade receberão de R$ 5 a R$ 15 mil para manter uma equipe multidisciplinar composta por treinador, fisioterapeuta, psicólogo, entre outros.
Acredito que seria necessário aumentar este número de bolsas com algum recurso municipal. Pois hoje quando identificamos um talento ele tem que trabalhar para se manter e acaba se afastando do esporte. Então deveria haver um trabalho com a intenção de manter este atleta no treinamento.
Na questão da divulgação, nas Olimpíadas pudemos assistir por vários canais que transmitiram os jogos. Agora nas Paralimpíadas que começaram na quarta-feira apenas um canal deverá fazer a transmissão. Mas de qualquer forma é avanço, tendo em vista que anteriormente não havia divulgação, hoje diversas modalidades se tornaram conhecidas. E isto é um reconhecimento, tendo em vista as boas colocações que os paratletas conquistaram.


Qual o recurso recebido pela entidade? É suficiente? Qual o número de funcionários?
Atualmente, recebemos R$ 5.500 da prefeitura. Deste recurso R$ 3 mil são voltados para o custeio das despesas e R$ 2.500 para o projeto Golfinhos do Futuro.
Além disso, recebemos algumas contribuições voluntárias que não são fixas. Também fomos contemplados com convênio com o CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente). Também realizamos alguns eventos para arrecadar fundos para a entidade. Temos cinco funcionários que são responsáveis pela alimentação, administração e parte técnica.
Entretanto, mesmo com os poucos recursos conseguimos bons resultados. Um exemplo é o Circuito Loterias Caixa, um dos maiores eventos paralímpicos com a participação de 60 equipes. No ano passado conquistamos o terceiro lugar geral. As equipes que ficaram nas duas primeiras colocações recebem R$ 100 mil mensais.

Falta esporte inclusivo nas escolas?
As dificuldades de inclusão já começam na sala de aula. Hoje, na educação física para este público não há adaptação. Teria que haver piscinas adaptadas e até mesmo grupos de treinamentos separados. No momento em que se abrem as portas das escolas para o esporte inclusivo podem surgir muito talentos. Porém, os problemas de falta de acesso ao esporte na cidade vão muito além das escolas. Atualmente, a única piscina aquecida e coberta da cidade é da AMEI. Não temos pólos esportivos. A única pista de atletismo também se encontra em estado precário. Uma cidade do porte de Marília teria que possuir uma pista sintética. Enfim, é necessário mais estrutura e trabalho de base para colhermos os frutos.


Quantos alunos da Amei tem chances de competir nas Paralimpíadas?
Cinco alunos têm potencial. Para estar na competição é importante conquistar boas colocações nas pré-seleções e ser convocado para seleção brasileira ao menos quatro vezes. O atleta que está entre os dez melhores do mundo com certeza será escolhido. A seleção deve fechar em 2015.
Nossa grande esperança para os Jogos Olímpicos são três garotas da natação que têm deficiência intelectual. São elas Miriele Lopes, 17, Caroline Beatriz, 15, e Nilwelen, 15. Elas têm um bom tempo.
Nós temos o paratleta de atletismo com deficiência visual, Aurélio Guedes, que já participou de quatro paralimpíadas conquistando 4º e 5º lugares. Neste ano ele não foi convocado por conta da idade.
Desde a nossa fundação também tivemos vários destaques a nível nacional. Temos ainda quatro atletas com síndrome de down que não são treinados aqui, mas são ligados a entidades que participaram do campeonato mundial de futsal e já foram campeões brasileiros da competição.
Além disso, para ser um destaque necessariamente não precisa ser um campeão. Temos um exemplo de uma garota com graves problemas de paralisia que iniciou a natação com dois anos e aos seis já fica sozinha na piscina. São vitórias diferentes.

Qual a importância da prática de esportes por pessoas com alguma deficiência? Quem pode praticar?
Primeiramente a oportunidade destas pessoas de sair de casa e ser aceita pela sociedade. Com este público é diferente, porque eles não desistem facilmente. Os alunos têm muita determinação e vontade. Não tenho dúvidas que o número de medalhas conquistadas nas Paralimpíadas será maior que nas Olimpíadas.
Para que o atleta inicie as atividades na AMEI deve passar por avaliação médica. Geralmente a proibição ocorre somente nos casos de risco de convulsão ou por problemas cardíacos.


Qual a diferença da preparação de pessoas com deficiência e no esporte convencional?
A diferença são algumas adaptações necessárias, já que as regras são as mesmas. Temos que utilizar uma psicologia diferente certas vezes com eles, principalmente com os alunos que têm alguma deficiência intelectual. A fórmula está no dia a dia com certas injeções de motivação e ânimo.

Como é o desempenho deste público?
O desempenho é fantástico, começando pelas dificuldades de acessibilidade que o aluno tem para chegar ao treinamento. No momento em que eles se sobressaem no esporte querem agarrar a oportunidade com unhas e dentes.


Parabéns à todos da AMEI pelo excelente trabalho desenvolvido!!! Deveriam ser muito mais valorizados e ter muito mais incentivos, tanto pela esfera pública, quanto pelas empresas provadas!!! Esperamos que apões essa exposição da Paraolimpíada em Londres e com o sucesso de nossos super atletas, a sociedade volte seu olhar para esse segmento e perceba que dentro de nossa própria cidade há um grande celeiro de atletas que precisam de um suporte ainda maior para galgar lugares mais altos tanto no pódio quanto em suas próprias vidas!!! Parabéns Celso Parolisi, continue com esse trabalho fantástico e com esse amor e carinho que você dedica aos seus atletas/anjos!!!

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