terça-feira, 28 de agosto de 2012

Oscar Pistorius refuta o posto de lenda: “Jamais falaria isso de mim”

Maior nome das Paralimpíadas, sul-africano celebra crescimento do esporte para deficientes e analisa participação olímpica: ‘Uma benção’

 

 

A história não deixa dúvidas: Oscar Pistorius é uma lenda do esporte paralímpico. Entretanto, o sul-africano fez questão de refutar este status em sua primeira aparição pública antes dos Jogos de Londres-2012. Principal nome da competição, o velocista está acostumado a ficar em evidência na capital britânica. Há menos de um mês, na mesma pista onde buscará quatro ouros a partir de sábado, ele arrancou aplausos do mundo ao alcançar as semifinais dos 400m rasos nos Jogos Olímpicos. Em seu “ambiente de origem”, porém, ele quer ser visto como mais um militante em prol da causa dos portadores de deficiência.
Em entrevista coletiva realizada nesta terça, véspera da cerimônia de abertura, no centro de imprensa, Pistorius foi comparado a Usain Bolt e questionado se pegaria para si a frase do jamaicano, que declarou ser uma lenda olímpica após o desempenho na Inglaterra. Tímido e humilde, ele agradeceu os elogios, mas disse:
- Usain Bolt é uma lenda. Eu espero continuar dando boas contribuições para o esporte. É um prazer enorme estar aqui. Tenho meus objetivos para esses Jogos Paralímpicos e espero alcança-los como já fiz no passado. Mas... eu nunca falaria isso de mim mesmo.
Pistorius prefere gastar suas palavras com outro tema: a socialização dos portadores de deficiência. Mais do que ídolo do esporte, o velocista mostra consciência de sua importância na luta pela igualdade e mostra bom humor ao contar como superou olhares desconfiados antes de se tornar famoso.
- Temos uma importância grande na maneira como percebem as pessoas com deficiência. Lembro que ia ao shopping e quando algumas crianças olhavam para minhas próteses os pais logo diziam: “Não olhe”. Aquela criança não tinha preconceito, mas fazia uma associação negativa. Isso aconteceu por muitos anos, as pessoas com vergonha dos deficientes. Essa é uma grande responsabilidade e entendo que seja difícil para os pais, porque os pais deles não o educaram assim. Por isso, quando vejo crianças eu vejo crianças eu falo: “Oi, meu nome é Oscar e eu tenho essas pernas legais porque fui mordido por um tubarão (risos)”. Faço brincadeiras. É importante mostrar que não há nada na vida que não somos capazes. Mostrar nossas habilidades, não as deficiências.


Em Londres, a consolidação do movimento paralímpico
E foi por mostrar as habilidades de seus competidores que o esporte paralímpico chega a Londres com a previsão de realização dos Jogos mais bem sucedidos da história. Com a imensa maioria dos ingressos vendidos, a expectativa é de que o evento se consolide definitivamente como uma competição esportiva em alto rendimento e não mais um meio de socialização.
- Em Atenas-2004, o movimento paralímpico não era tão grande como o que de hoje. Tínhamos públicos de cerca de sete mil. Em Pequim, tudo mudou. Tivemos casa cheia na maioria dos dias, as pessoas se impressionavam com o que fazíamos. Nos últimos anos, crescemos muito, as reações agora são mais normais. O caminho é longo, mas estamos conseguindo superar estigmas e tabus. Acredito que estes Jogos vão ser os mais acessíveis para o público. Estou animado por poder presenciar isso.
Bastante dessa evolução vem da visibilidade que as conquistas de Pistorius deram ao movimento. A participação nas Olimpíadas foi somente a consagração de uma batalha em busca da igualdade que passou até mesmo por esferas judiciais para que pudesse buscar o índice em competições com atletas convencionais. Tal trajetória inspirou portadores de deficiência mundo afora, até mesmo jovens ousados que colocam em risco sua hegemonia em provas de velocidade, conforme contou de forma bem humorada.
- Ano passado, no Mundial (na Nova Zelândia), um corredor alemão dos 100m disse que tinha perdido a perna em um acidente e ao me ver correr pensou: “Quero ser um atleta”. E ele corre muito bem. Seria melhor que não tivesse televisão no hospital onde estava (risos).


Olimpíadas ou Paralimpíadas?
Apesar de Pistorius procurar sempre manter o foco na competição que começa nesta quarta-feira, perguntas e comparações entre suas performances e conquistas entre olímpicos e paralímpicos foram inevitáveis. O velocista, por sua vez, sempre respondeu com diplomacia e preferiu apontar toda temporada de 2012 como bem sucedida, sem predileção.
- Nunca diria que uma competição é mais importante que a outra. Minha temporada será fantástica se eu fizer o meu melhor aqui. Conquistei coisas incríveis, fiz o meu melhor e estou muito feliz por isso. Olho para trás e vejo que fiz o meu melhor. Sem arrependimentos.
Orgulhoso de sua participação olímpica, o sul-africano apontou ainda benefícios das participações nos 400m e 4 x 400m para os Jogos Paralímpicos. Segundo ele, o fato de já conhecer toda a atmosfera do estádio olímpico pode pesar a seu favor nas quatro provas que disputará.
- Foi uma benção em muitos sentidos. Já tinha tentado me classificar há cinco anos e poder competir entre os melhores me faz querer sempre mais. Além disso, já estou familiarizado com a pista, as entradas já estão vendidas para as provas... Então, vai ser a mesma pista, o mesmo público e espero que isso me ajude.
Se nos Jogos Olímpicos a simples participação pode ser considerada uma vitória, nas Paralimpíadas está claro que o lugar mais alto do pódio é a meta e, até certo ponto, caminho natural. Pistorius está inscrito para os 100m, 200m, 400m rasos e revezamento 4 x 100m rasos e detém o recorde mundial em todas as provas na classe T43. O favoritismo, porém, também representa perigo, e o atleta volta a usar o exemplo das disputas olímpicas para evitar frustrações.
- Paciência é a melhor palavra para o momento. Foi o que não tive nas semifinais dos 400m nas Olimpíadas. Depois dos 50m vi que tinha forçado demais. Vai ser um calendário desafiante. Estou em quatro provas e quero ir bem em todas. Estar no pódio em uma edição dos Jogos não quer dizer que estarei no seguinte. Tenho que seguir trabalhando duro.
Das quatro provas, a dos 100m rasos é a considerada mais desafiadora por Pistorius, que faz questão até mesmo que manter a precaução ao se mostrar satisfeito “apenas” com um lugar no pódio. Em Pequim, ele conquistou três ouros nas provas individuais, além de ainda ter um título nos 200m e uma prata nos 100m em Atenas-2004.
- É o maior desafio para mim. Em Pequim, ganhei por pouco. Acredito que vai ser um grande espetáculo. Quero chegar ao pódio. Por defender o título, vou correr pelo ouro, mas há gente que corre mais rápido e estará menos cansada. Preciso ser realista, nos 200m e nos 400m tenho mais possibilidades.
Pistorius estréia nos Jogos Paralímpicos no próximo sábado, nos 200m rasos, por volta das 15h (de Brasília). O bi-amputado disputa suas provas na classe T44, para atletas com lesões menores que a sua, por conta do baixo número de competidores em sua classe de origem, a T43. O mesmo acontece com o brasileiro Alan Fonteles
Que realmente a luta dele seja tanto contra o cronômetro quanto ao preconceito e que a cada dia que passe as pessoas e empresas possam dar mais visibilidade, respeito e oportunidades a estes super atletas, em todos os sentidos!!!

Pra cima deles Pistorius!!!

Reeditado: Fabio Cezar
 

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